23 de abril de 2020

O Rock Progressivo Brasileiro - Banda O Terço

1974

O Terço é uma banda brasileira formada no Rio de Janeiro em 1968 por Jorge Amiden (guitarra), Sérgio Hinds (baixo) e Vinícius Cantuária (bateria). A banda começou tocando rock clássico, mas logo tendeu ao rock progressivo e ao rock rural e pop caracterizando o som e a diversidade musical da banda.

Segundo o guitarrista Sérgio Hinds (único membro presente em todas as formações da banda), a palavra "terço" foi escolhida como nome da banda porque é uma medida fracionária que corresponde a três ou a "terça parte de alguma coisa", como num Rosário. "O Terço" caiu como uma luva devido a primeira formação da banda, que era a de trio (guitarra elétrica, baixo elétrico, bateria). Inicialmente, o nome escolhido tinha sido "Santíssima Trindade", mas para evitar atritos com a Igreja Católica, foi adotado "O Terço".


Origem

O Terço originou-se basicamente de dois grupos, o Joint Stock Co. (que integrava Jorge Amiden, Vinícius Cantuária, Cezar de Mercês e Sérgio Magrão) e Hot Dogs (que integrava Sérgio Hinds). Todos eles viriam a fazer parte da banda em diversas ocasiões. O Terço surgiu no final da década de 1960 e a primeira formação foi: Sérgio Hinds no baixo, Jorge Amiden na guitarra e Vinícius Cantuária na bateria. Esta formação gravou o seu primeiro LP em 1970, com uma mistura de rock 50, folk e música clássica.

O Terço nesta época tocava em diversos festivais. Com a canção "Velhas Histórias", composta por Renato Côrrea e Guarabyra, o grupo ganhou o Festival de Juiz de Fora. Em um festival universitário, a banda ficou em 2º lugar defendendo a música "Espaço Branco" de Vermelho e Flávio Venturini (que mais tarde viria a integrar o grupo). A banda também classificou as músicas "Tributo ao Sorriso" (3º lugar) e "O Visitante" (4º lugar), em duas edições do Festival Internacional da Canção (FIC), o que levou a banda a se tornar o grupo revelação pela mídia especializada, com destaque para o vocal trabalhado em falsete, que era uma das características da banda.

Primeiras mudanças
O Terço, 1971. Arquivo Nacional.

Sérgio Hinds havia se afastado do grupo para tocar com Ivan Lins. Foi então que Jorge Amiden chamou Cezar de Mercês para integrar o grupo como baixista. Sérgio Hinds voltou logo depois para completar o quarteto. Em parceria com Guarabyra, o grupo criou o violoncelo elétrico (tocado por Sérgio Hinds) e a guitarra de três braços (apelidada de "tritarra", tocada por Jorge Amiden). Foi assim que O Terço lançou um compacto duplo com 5 músicas, entre elas, um tema de Bach, que mostrava a influência clássica da banda.

Logo depois, Jorge Amiden que até então era a principal mente criadora de O Terço, se desentende com o grupo e o deixa. Em acordo entre os outros três integrantes, Sérgio Hinds registrou o nome "O Terço" para que Jorge Amiden não o fizesse. Após a saída do grupo em 1972, Amiden criou um novo grupo chamado Karma, junto com os músicos Luiz Mendes Junior (violão) e Alen Terra (baixo). O Karma gravou um belo disco ainda neste ano e depois se desfez.

O Terço passou então a ser Sérgio Hinds (guitarra), Cezar de Mercês (baixo) e Vinícius Cantuária (bateria). Ainda em meados de 1972, O Terço participou da gravação do disco Vento Sul de Marcos Valle. Também participaram em algumas faixas o trio "Paulo, Claudio e Maurício", formado pelos irmãos gêmeos Paulo e Claudio Guimarães (flauta e guitarra) e pelo arranjador Maurício Maestro, além do guitarrista Frederiko (Fredera), ex-Som Imaginário. O Terço junto com Marcos Valle fizeram uma turnê por todo país e tocaram no Festival do Midem em Cannes, na França.
Ascensão ao rock progressivo

Influênciados pelo rock progressivo inglês, O Terço mudou a sua sonoridade e em 1972 lançou um compacto mais pesado com as músicas "Ilusão de Ótica" e "Tempo é Vento". No ano seguinte, O Terço lançou o segundo disco (homônimo). No disco o grupo mostra que queria mesmo era tocar rock progressivo. O disco continha uma longa suíte chamada "Amanhecer Total" (com 6 temas), composto pelos três integrantes e que conta com a participação de Luiz Paulo Simas nos teclados sintetizadores (Módulo 1000), Patrícia do Valle com a voz na introdução do tema "Cores", Chico Batera na percussão e Maran Schagen encerrando o tema "Cores Finais" no piano. O músico Paulo Moura também participou do disco, tocando saxofone alto na música "Você aí".
Nova mudança no grupo e aproximação com o rock rural

Após a gravação do segundo disco, Vinícius Cantuária deixou a banda para tocar com Caetano Veloso. Entraram na banda Sérgio Magrão (baixo) e Luiz Moreno (bateria) para tocar junto com Sérgio Hinds (guitarra) e Cezar de Mercês (guitarra base).

A aproximação do grupo com Sá e Guarabyra deu um guinada na carreira de O Terço. Na época, eles foram convidados a gravar um disco com a dupla (Nunca, 1974). Esta proximidade com o chamado "rock rural" da dupla influenciou muito a sonoridade da banda em sua fase posterior. Sérgio Hinds pediu a indicação de um tecladista para Milton Nascimento, que indicou Flávio Venturini. Com o novo tecladista, O Terço começou, já em 1974, a gravar o terceiro disco da banda. Cezar de Mercês deixou o grupo, mas continuou como compositor e colaborador da banda.

Fase Áurea

Em 1975, Sérgio Hinds (guitarra), Sérgio Magrão (baixo), Luiz Moreno (bateria) e Flávio Venturini (teclado e viola), concluíram a gravação de seu terceiro disco, o Criaturas da Noite. A capa do disco foi elaborada por Antônio e André Peticov e foi chamada de "A Compreensão". O disco começa com o pulsante baixo de Magrão, introdução do simples rock "Hey Amigo", composição de Cezar de Mercês que se tornou um dos maiores clássicos da banda. A influência do rock rural é bastante presente nas faixas "Queimada" e "Jogo das Pedras" (ambas de Flávio Venturini e Cezar de Mercês). A faixa-título (Flávio Venturini / Luiz Carlos Sá), conta com os arranjos de orquestra do maestro Rogério Duprat. O disco traz as instrumentais "Ponto Final" (do baterista Luiz Moreno, que toca piano na introdução da música) e a suíte instrumental "1974", composta por Flávio Venturini.

Visando mercado internacional, a banda gravou o vocal deste disco em inglês e lançou o Creatures of the Night.

Em 1976, o grupo foi morar em uma fazenda, em São Paulo. Lá foi concebido todo o novo disco do grupo, que levou o nome de Casa Encantada. O disco segue a linha do anterior, com rock progressivo, músicas instrumentais e a influência do rock rural. O percussionista Luiz Moreno faz a voz solo das duas primeiras faixas do disco, "Flor de La Noche" e "Luz de Vela" (ambas compostas por Cezar de Mercês). A faixa "Sentinela do Abismo" (Flávio Venturini / Márcio Borges) é uma música solo do tecladista no disco (cantada e tocada apenas por ele) com um arranjo de cordas regido por Rogério Duprat. Cezar de Mercês participou como flautista na faixa-título "Casa Encantada" (Flávio Venturini / Luiz Carlos Sá). O disco é encerrado com uma faixa da dupla Sá e Guarabyra, "Pássaro".

Durante concertos, a banda tocava músicas inéditas que ainda não haviam sido gravadas ainda, como a instrumental "Suíte" (Flávio Venturini) e "Raposa Azul" (Flávio Venturini / Sérgio Hinds)